Sou
totalmente a favor das manifestações que vem ocorrendo a partir do
Movimento Passe Livre. Algumas vezes fico mesmo emocionado ao ver a
população nas ruas exigindo mudanças e cobrando dos governos (coisas
que nós progressistas sempre sonhamos que acontecesse no Brasil). Mas
isso já tem sido quase unânime, então pra tentar fugir um pouco do
maniqueísmo acrítico, é sempre útil algum toque de reflexão. Segue:
Alguém teve a ideia de organizar uma pauta de reivindicações pra tornar mais eficientes os protestos. O primeiro item sugerido foi: - solidariedade a ações de movimentos sociais como o MST, a fim de aumentar a pressão ao governo pela reforma agrária; outros, contudo, gritaram: - Não! Exigimos é que o governo deixe de ser complacente com os ataques à propriedade cometidos pelo MST!; Em seguida, tentaram incluir uma proposta de ampliação do sistema de cotas, ao que era respondido: Pelo fim das cotas! Queremos respeito aos méritos individuais! Outros sugeriam combate ao neoliberalismo com sua proposta de Estado mínimo, enquanto outros respondiam: pela diminuição da máquina estatal e dos gastos públicos! Uns sugeriam a anulação das privatizações, enquanto outros postulavam sua ampliação. Em seguida, outra sugestão: ato de repúdio à mídia conservadora e golpista que criminaliza os movimentos sociais. Ao que responderam: impeachment à Dilma, PT nunca mais! Outra sugestão foi a legalização das drogas. Outros, contudo, diziam: Pelo contrário, exigimos o recrudescimento no combate às drogas! Uns pleiteavam: fim do sistema prisional medieval e racista! Outros vociferavam: redução da maioridade penal! Um sujeito que portava uma bandeira de partido de esquerda foi agredido por um militante de extrema-direita e gritou: Abaixo a censura! Liberdade de manifestação! Ao que o outro militante levantou uma bandeira nazista e ouviu do primeiro: Abaixo os nazistas!
Por fim, se entenderam quando sugeriram a bandeira do combate à corrupção. Mas no final, foi impossível mantê-los unidos. Uns se dirigiram para a frente do palácio do governo do PT, enquanto os outros para o do PSDB.
Aqueles, contudo, que consideravam que todos os partidos são iguais, se enganaram ao pensar que é possível fazer política por fora das questões ideológicas (talvez seja até possível política sem partidos, mas nunca sem ideologias). Esqueceram que a sociedade é naturalmente dividida em torno de questões essenciais, que exigem, portanto, uma "tomada de partido". Somos todos contra a corrupção, e por isso essa é uma bandeira que normalmente traz consigo algumas outras (menos unânimes) e que devemos estar atentos. Questões que exigem uma maior reflexão e que denunciam a [inevitável] ideologia do grupo que as utiliza (como chamariz). Questões que costumam ir um pouco além do "bom senso" a que as pessoas não politizadas estão habituadas a acreditar como ferramenta a que tudo resolva em política.Assim, ao contrário da tendência de aversão à política que pode acompanhar o possível sentimento "antipartidos", tenho por inevitável a politização dos que querem transformar a política. Pois quem não se politiza (o que implica um pouco de pesquisa séria) corre o risco de ser manipulado e favorecer a um dos lados do conflito ideológico, sem saber ou sem querer.
Alguém teve a ideia de organizar uma pauta de reivindicações pra tornar mais eficientes os protestos. O primeiro item sugerido foi: - solidariedade a ações de movimentos sociais como o MST, a fim de aumentar a pressão ao governo pela reforma agrária; outros, contudo, gritaram: - Não! Exigimos é que o governo deixe de ser complacente com os ataques à propriedade cometidos pelo MST!; Em seguida, tentaram incluir uma proposta de ampliação do sistema de cotas, ao que era respondido: Pelo fim das cotas! Queremos respeito aos méritos individuais! Outros sugeriam combate ao neoliberalismo com sua proposta de Estado mínimo, enquanto outros respondiam: pela diminuição da máquina estatal e dos gastos públicos! Uns sugeriam a anulação das privatizações, enquanto outros postulavam sua ampliação. Em seguida, outra sugestão: ato de repúdio à mídia conservadora e golpista que criminaliza os movimentos sociais. Ao que responderam: impeachment à Dilma, PT nunca mais! Outra sugestão foi a legalização das drogas. Outros, contudo, diziam: Pelo contrário, exigimos o recrudescimento no combate às drogas! Uns pleiteavam: fim do sistema prisional medieval e racista! Outros vociferavam: redução da maioridade penal! Um sujeito que portava uma bandeira de partido de esquerda foi agredido por um militante de extrema-direita e gritou: Abaixo a censura! Liberdade de manifestação! Ao que o outro militante levantou uma bandeira nazista e ouviu do primeiro: Abaixo os nazistas!
Por fim, se entenderam quando sugeriram a bandeira do combate à corrupção. Mas no final, foi impossível mantê-los unidos. Uns se dirigiram para a frente do palácio do governo do PT, enquanto os outros para o do PSDB.
Aqueles, contudo, que consideravam que todos os partidos são iguais, se enganaram ao pensar que é possível fazer política por fora das questões ideológicas (talvez seja até possível política sem partidos, mas nunca sem ideologias). Esqueceram que a sociedade é naturalmente dividida em torno de questões essenciais, que exigem, portanto, uma "tomada de partido". Somos todos contra a corrupção, e por isso essa é uma bandeira que normalmente traz consigo algumas outras (menos unânimes) e que devemos estar atentos. Questões que exigem uma maior reflexão e que denunciam a [inevitável] ideologia do grupo que as utiliza (como chamariz). Questões que costumam ir um pouco além do "bom senso" a que as pessoas não politizadas estão habituadas a acreditar como ferramenta a que tudo resolva em política.Assim, ao contrário da tendência de aversão à política que pode acompanhar o possível sentimento "antipartidos", tenho por inevitável a politização dos que querem transformar a política. Pois quem não se politiza (o que implica um pouco de pesquisa séria) corre o risco de ser manipulado e favorecer a um dos lados do conflito ideológico, sem saber ou sem querer.
Nenhum comentário:
Postar um comentário