Por que é muito provável que grande parte do conhecimento obtido via
senso comum esteja certo ou, ao menos, não ofereça riscos importantes a ponto de exigir uma classificação do tipo?
R: É notório que a imensa maioria dos conhecimentos que utilizamos nas
atividades cotidianas e que nos habilitam a viver nosso dia-a-dia não são
obtidos por meio de revistas científicas. Isso basicamente por dois motivos: ou são
inofensivos demais para que um possível erro de avaliação precise ser enfaticamente combatido pela ciência, ou tratam de coisas que o mero costume alcançou uma fórmula sobre a
qual a ciência ou o raciocínio lógico não têm qualquer interesse em analisar seriamente (ex.: hábito de usar pijamas, pentear o cabelo, abrir a panela, empinar a roda da bicicleta, usar terno, sapatos ou cinto para ir trabalhar, ouvir rádio no
trajeto do trabalho, o modo de amarrar os cadarços, a maneira "correta" de tomar banho, etc.).
Agora, em relação a uma certa minoria de conhecimentos que realmente importam
para a qualidade de vida do ser humano, da sociedade ou dos seres vivos em geral, precisamos tomar cuidado com o que leciona o senso comum (esse conhecimento
obtido sem critérios, mas que "parecem" corretos). Aí a racionalidade precisa ser
mais apurada que o costume, sendo o maior exemplo as questões que implicam em
opinião de "certo" e "errado" em matéria de comportamentos sociais em geral (ainda que se considere que haja inevitavelmente correntes a respeito do assunto - sendo ideal mesmo que se conheça todas, e razoável que se conheça ao menos a maior parte delas, ou, de forma suficiente, as mais importantes, para que assim se possa estabelecer o devido elo argumentativo entre elas, bem como em relação ao objeto tratado, com base em métodos mais confiáveis, normalmente partindo de critérios lógico-racionais).
Em matéria de educação (esse "grande esforço coletivo na intenção de tornar
o mundo melhor"), melhor guardar os "achismos" para si, eis que na maior parte das vezes (em relação aos temas importantes) só serviriam para deseducar
a população ou legitimar definitivamente o erro. Obviamente que é difícil agir com a
responsabilidade que essa racionalidade exige (a maioria talvez nem saiba como raciocinar corretamente, com base na lógica - apesar de que normalmente se pensa que sabe), mas em nome da evolução
cultural da humanidade, é sugerido que se duvide mais de suas convicções antes
de passá-las adiante (por mais que elas pareçam "fazer sentido").
Não obstante...
Duas são as questões sobre as quais considero importante refletir, e em
relação as quais não consegui alcançar resposta satisfatória (e que guardam relação
com a questão suscitada).
Primeiro: O papel que deve ocupar a opinião do ignorante (assim considerado
aquele que não tem conhecimento suficiente sobre determinado tema que exige reflexões e conhecimentos mais apurados)
Segundo: O direito de ser "idiota" (lembre-se: cada vez que você, no papel de educador, ensina
que "o certo" é algo em relação ao qual há no mínimo grandes
controvérsias a respeito - as quais você deveria ao menos conhecer - você está sendo, no
mínimo, um idiota...).
Nenhum comentário:
Postar um comentário