15 de março de 2009

A questão da verdade e o relativismo I (em construção)

É a verdade absoluta ou relativa?

Não acredito que se possa dar uma resposta definitiva a essa pergunta. E antes que alguém se adiante, não, isso não prova que a verdade seja relativa. Prova apenas que nós não sabemos se existe uma verdade absoluta. As "verdades relativas" todos nós conhecemos, e dizem respeito ao conhecimento do homem a respeito das coisas em determinado lugar e em determinada época. Uma evolução do conhecimento, poderia dizer, com verdades diferentes em cada lugar e época. Contudo, existindo apenas verdades relativas, o conhecimento evoluiria em direção a quê?

Antigamente se dizia que a Terra era o centro do universo, hoje afirma-se que não o é. Qual das afirmações estaria mais próxima da verdade? Caso admitamos que a segunda afirmação está mais próxima da verdade (ainda que não seja a verdade final), admitir-se-á que existe uma verdade acima das verdades relativas (que chamaremos de "absoluta" ou algo que seja parecido com isso), que representaria o mundo físico como ele é de fato. Esse conhecimento em direção à realidade (desconhecida do homem em sua plenitude), estaria mais próximo da "verdade" hoje do que na época das cavernas. Dessa forma, não existindo verdade absoluta, e podendo a verdade relativa dançar de um extremo a outro do conhecimento e das teorias, jamais haveria evolução dos conhecimentos, ou, ainda, jamais poderíamos dizer que estamos mais próximos da verdade acerca de alguma coisa. Existiria apenas uma dança, em um ou noutro sentido, aleatoriamente, em direção ao acaso, e sem consolidação de qualquer conhecimento.

Como outro exemplo, imaginemos que exista um planeta desconhecido próximo ao que hoje chamamos sistema solar. Admitindo-se certo realismo filosófico, esse planeta existiria de fato independente de nosso conhecimento a respeito dele. Assim, as verdades relativas do homem não indicariam a existência desse planeta, mas ele ainda assim existiria como uma verdade absoluta não descoberta pelo homem.

Assim, ainda que a verdade absoluta (realidade do mundo buscada pelo conhecimento humano) exista, esforçamo-nos para nos aproximar dela, como um sonar que corrige nossa posição para que sigamos na direção certa (ainda que em zigue-zague, com grandes reveses e equívocos), sem nunca saber se poderemos alcançá-la, mas torcendo para que a cada dia estejamos dela mais próximos. Se ela não existir (parafraseando Dostoievski), e sendo tudo relativo, todas as verdades seriam permitidas?

P.S. Desconsiderei aqui até mesmo a questão das verdades matemáticas (ou exatas) como afirmar que a Lua tem diâmetro menor do que a Terra, o que não creio que seja uma verdade relativa (assim como um mais um são dois).

É uma questão controversa e sei que existem opiniões filosóficas repeitáveis contrárias à minha (especialmente depois do advento da filosofia contemporânea). Assim, torço para que continuemos refletindo a respeito.

Nenhum comentário:

"Quem matou o artista? Há assim várias hipóteses. E também vários suspeitos. Foi o martelo do operário? Ou foi apenas um acidente de trabalho? Foi a caneta do burocrata? Ou se intoxicou com a tinta dos carimbos? Ou foi o giz da sala de aula? Foi uma bala perdida? Ou ela era direcionada? Ou talvez tenha morrido de fome, para aumentar os lucros dos investidores?


O artista morreu, mas se recusa a ser enterrado
Levanta-se do caixão e corre desatinado
Nu pelos campos
Causando espanto entre as velhas senhoras da sociedade
As pessoas se espantam e gritam
E os senhores engravatados se reúnem:
O artista só faz perturbar a ordem!
E isso não é bom para os negócios
Quem vai conseguir enterrar o artista
e conseguir enfim estabelecer a ordem no mundo?

O artista tem o peito aberto
Por onde escorrem-lhe as entranhas
É agora um zumbi, um verme, um corvo
Transformando o podre em nova vida
E produz mau cheiro
Chafurda a morte
Tem um vômito ácido
Mas toma um Sonrisal® e segue em frente

Já não tem fígado ou pulmão
E o coração está em pedaços
E ainda assim, de suas tripas espalhadas,
Constrói sua obra-prima"


(Paulo A.C.B.Jr)